Artigo: Por que o “Ano do Linux” nunca chega? – Parte 1

Periodicamente surge a dúvida ou mesmo afirmação: “Esse será o Ano do Linux! (?)”. Mas esse ano já chegou e tem um tempo. Explicar-lo-ei aqui!


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Nota: Este artigo opinativo possui caráter pessoal com o objetivo de informar e trazer elementos de vivência prática. Peço discrição ao lê-lo.

Dividido em duas partes, esta primeira redigita pelo Nathan Drake aborda um ponto de vista sobre o Ano do Linux. O segundo artigo aqui foi redigido pelo Vilson Heuer e traz uma visão diferente a respeito!

1. Introdução

“O ANO DO LINUX” é uma quase piada na comunidade OpenSource mundial de que define, de forma geral, em que ano o Linux dominará os desktops e será um concorrente à altura do Windows. O Linux já dominou os datacenters, os supercomputadores, os dispositivos mobile – sendo Android base kernel Linux, videogames como PlayStation sendo base FreeBSD e o iPhone, tal qual os macOS’es sendo UNIX – o Windows “só” domina nos desktops domésticos, empresariais e consoles Xbox atualmente. Até na nuvem Azure da Microsoft o Linux é mais popular.

  • Mas por quê o Ano do Linux não chega?

Muitos tentaram responder essa pergunta… cada um trouxe um ponto de vista. Reúno algumas figuras conhecidas da internet que já escreveram artigos semelhantes relacionados ao tema: – por favor não me processem <3

O assunto sempre vem à tona nos fóruns, independente do país, é algo da comunidade Linux a nível global: – please don’t sue me <3

Já abordei anteriormente aqui no site, no artigo Linux como Solução vários pontos onde comercialmente o Linux não é interessante para usuários finais e vários motivos de caráter técnico do porquê dele não vingar no mercado doméstico e de certa forma do por quê o seu Ano nunca chegou.

Em resumo, o Windows é popular porque ele é uma Solução, ele atende as diferentes demandas, é absurdamente amigável e foi desenvolvido para ser amigável, com janelas em janelas em janelas para que você jamais use o CMD.exe ou PowerShell.exe para absolutamente nada!

O terminal do Linux não é complicado mas eu sei o que vivi em 2015, quando EU não gostava do Linux! Demorei pelo menos 1 ano pra me adaptar ao terminal e criar confiança de usá-lo com frequência. Essa curva de aprendizado é o que espanta novos usuários do Linux domésticos, e nas empresas não querem perder esse tempo ($) para treinar colaboradores.

Apenas por esse breve resumo, eu poderia cravar “o Ano do Linux nunca vai chegar!”, pronto, fim de post, circulando minha gente pois não há nada para ler aqui…

…Porém, hoje vou dar meus 2 dedos de opinião e fazer meu artigo do Ano do Linux: pretendo abordar um lado um pouco mais experimental, humano e prático, do que está acontecendo.

E digo mais: Dependendo da ótica que se observe, o Linux sim já se tornou solução alternativa viável ao Windows e sim está pegando mercado, a questão é a percepção disso.

2. Uso Pessoal/Doméstico

Não quero cravar como sendo dono da razão nesse artigo. Apenas quero trazer meu exemplo de como o Linux – nesse momento é o EndeavourOS – é meu sistema principal do dia a dia já a alguns anos:

  • Meus e-mails gerencio pelo Thunderbird, tanto gmail quanto hotmail.
  • Meus navegadores principais são o Google Chrome e o Microsoft Edge.
    O Chrome aonde estão meus dados, que giram no ecossistema Google, e o Edge porque ele têm ficado mais bem encorpado com recursos e otimizações que fazem valer a pena usá-lo, principalmente com a recente integração à IA.
  • Eu me adaptei e uso o GIMP para edições de imagens. Todas as capas da Linux Universe eu fiz no GIMP.
    Não sou profissional da edição, então seria desperdício de esforço mental e hardware usar o Adobe Photoshop ou Corel DRAW só para o básico que seria lidar com camadas, alguns efeito, textos… ou seja, fazer uma edição rápida e grosseira que seja funcional. Tal qual, tem uma boa comunidade com tutoriais e recursos.
  • Meus modelos 3D quando “brinco” com renderizações faço com o Blender. Atende bem às minhas demandas e novamente não preciso recorrer a nada ultra avançado como o 3DS Max.
  • Na edição de vídeo o Kdenlive me satisfaz, aonde usar o Sony Vegas seria um exagero, já que quando preciso fazer edições o que o Kdenlive possui me basta, ele resolve o problema.
  • Microsoft Office! Esse é um ponto espinhoso, muita gente gosta dele, ama ele, não larga dele. E eu concordo, ele tem uma interface amigável e como todo mundo usa, você não quer ter um documento .ods quebrado no MS Office. Já falei aqui como ter o MS Office em Linux MAS como eu não trabalho com advocacia, RH ou financeiro de empresas, sequer estudo e preciso fazer um TCC, então o Libre Office me atende. Ele abre os documentos do MS Office, quebrando raras vezes (facil de corrigir) e se eu preciso criar algo e mandar para alguém, eu criei um .xlsx e um .docx no MS Office um Windows, uso ele de modelo e abro no meu Libre Office, ao fazer os documentos lá, ele não quebra tanto. Ou seja, não preciso de MS Office.
  • Meus games estão dentro da Steam e mesmo os não-Steam rodam bem pelo ProtonExperimental. Na verdade desde o lançamento do Proton, não tive mais qualquer problema com meus games no PC, ficou foi mais fácil: só instalar e jogar.

Com essa lista, vou usar Windows para o quê? Passar raiva com updates quase diários? Ver meu SSD ter o famoso bug de 100% de uso do disco, ou seja, vendo ele morrendo lenta e dolorosamente? Ou só ter umas perfumarias como um fundo com paralaxe nas janelas, IA na Busca do sistema e/ou um layout que lembra o Gnome Shell copiado na cara dura?

Se o Linux me é uma solução, então a solução Windows não me é interessante, não tenho motivos pra usar.

Por um acaso você se identificou com o meu relato? Por ventura você usa Windows?
Então não usa Linux como um sistema primário por quê?

3. Adaptação e Transição

Senta que lá vem história!

Em Janeiro de 2015 eu tinha um Intel NUC recém adquirido com Windows 10. Eu adorava a interface nova do Windows, achava aqueles tiles do menu iniciar lindos, fazia todo tipo de barbaridade estética mas ficava confortável e até aquela altura ele era minha solução favorita para desktop.

O Linux eu sequer lembrava que existia, sabia de sua existência lá em 2001 quando usei pouco nos horríveis computadores das aulas de informática do ensino fundamental.

Sim esse desktop era meu, de 2015 quando eu só usava Windows! – Argh

Porém eu estava frustrado e irritado porque meu querido Intel NUC travava, corrompia, dava pelo menos 3 telas azuis ao dia… Formatei de novo, e de novo, conferia os drivers, verificava os logs, e nada. Parecia maldição, era bizarro. A birra do Windows começou a tomar forma nessa época mas eu não conhecia coisa melhor…

Um belo dia fui ler um artigo sobre máquinas virtuais, rodei algumas no meu NUC: Primeiro Windows 95, 98… depois o XP, o 7, o 8.1… o 10! E eu queria mais! Rodei com sucesso um Hackintosh! E EU QUERIA MAIS!

E o tal do Linux? Será que presta? Google pesquisar: Linux download. Ubuntu 14.10 Utopic Unicorn foi o primeiro resultado nessa época. Baixei, gravei no pendrive, conheci o tal Live USB Mode. Amei. Prático, simples, os updates são eficientes… Mas diferente, complicado. E terminal? Eca!

Mas cada vez que o Windows dava uma tela azul, eu voltava pro liveUSB do Linux. E cada dificuldade nova no Linux, eu voltava pro Windows. A raiva que eu passei no Windows era tão maior que eu, dias depois, já ficava 75% do tempo no modo liveUSB. Encarei o desafio do Dual Boot. Mesma coisa, mas agora pelo menos 90% do tempo eu tava no Linux. Meus games continuavam no Windows.

WINE na época era o 1.7, não rodava muita coisa, não existia proton, sequer o vulkan. Pouco a pouco, brigando com o WINE, rodei meus games. Tinha poucos, jogava em consoles na época. O The Sims 2 foi o último que restava migrar, quando no fatídico Junho de 2016, pouco mais de 1 ano de conhecer o Linux, formatei o Windows e migrei definitivamente para o Linux.

Ainda haviam dificuldades, problemas, dúvidas do terminal e pelo menos 1x no mês eu quebrava o sistema dando algum comando errado ou que eu não sabia reverter. Mas eram coisas rápidas de resolver, mesmo a formatação em poucos minutos já estava pronto.

Me adaptei, mudei de sistema e hoje eu to tão bem familiarizado com o mundo OpenSource, com o Linux e suas ferramentas, que pegar Windows pra mexer é o extremo oposto: Agora o Windows me causa desconforto, estranheza, parece um sistema alienígena, que nojo que usa tanta janela pra tudo? Sério que não usam PowerShell pra nada? O jogo virou pra mim.

Mesmo o recém anunciado recurso de IA embutida no sistema do Windows 11 me causa asco “mais bloatware e telemetria pra preocupar meus clientes e me dar dor de cabeça nas empresas que ajudo a dar manutenção…”. Pra mim já soa como inventar problemas pra inventar mais soluções, para que o Windows sempre seja uma solução!

4. Aprendizado

Por si só isso de fato é um problema: A curva de aprendizado do Linux AINDA É real, e pode ser dolorosa, principalmente por quem já acostumou com Windows a tanto tempo.

Não é diferente de quem usa Windows e vai usar macOS, o sofrimento é tanto quanto! Talvez maior porque não tem muita pirataria… não tem os recursos obscuros que o Windows permite. Mas a Apple é a Apple, quem tem macOS já aceita o destino e normalmente não vejo chilique caso algo não funcione. – Já me pediram pra configurar AutoCAD pirata, não funcionou… fim, ok, o cliente aceitou e pagou pra isso.

  • Mas por quê então o Linux não vinga?

Porque existem outros problemas. Atualmente eu observo o seguinte:

  • Muitas opções de distros.
    A super fragmentação do Linux cria mil possibilidades e quem não conhece o sistema se perde.
    macOS e Windows, por outro lado, é só 1 ou 2 versões atualmente mantidas. Fácil de achar e usar.
  • Igualmente muitas opções de pacotes.
    Tem sistema que é .deb, outros .rpm, outros binários direto do repositório, outros .tar.gz…
    E tem aplicativos que só existem em determinados formatos de pacote.
    Windows é tudo .exe, algumas vezes .msi. E no macOS é tudo .pkg.
    Mesmo os pacotes globais como Snap, AppImage e Flatpak… são 3 opções! E nem tudo tem pra eles.
  • Interfaces diferentes…. XFCE, MATE, GNOME SHELL, KDE, LXDE, etc etc…
    Cada uma brigando pra ser “a melhor experiência linux”.
    E curiosamente todas faltam sempre algum recurso.

Tem mais. Problemas tem bastante e nossos amigos dos links no começo deste artigo enumeram bem isso, não quero ser tão repetitivo aqui. Mas vamos ao que interessa: O Ano do Linux!

5. O Ano do Linux

Mas quando esse ano do linux vai chegar? Ou já chegou? É possível?

A meu ver, na minha mais sincera e humilde opinião, o Ano do Linux já veio e foi em 2022, ao menos na categoria gamer, no lançamento do SteamDeck. Por que?

  • Um dos focos em ser uma solução doméstica está em o Windows ser a plataforma gamer tradicional ante os consoles.
    E o SteamDeck veio bater com isso, sendo basicamente uma plataforma mais computador do que console, apesar de atuar como ambos, que é uma SOLUÇÃO.
  • Como solução, o sistema da Valve simplesmente se tornou uma solução gamer viável ante o Windows.
    Você compra o SteamDeck, faz login na Steam, escolhe o jogo, baixa e pronto.
    E se precisar fazer algum ajuste, geralmente é coisa simples pela própria interface da Steam.
  • Nem mesmo em lançamentos o SteamDeck peca: Ele roda games, e roda bem, o que podem haver problemas nos sistemas linux desktop atuais. Ainda chegam ajustes e melhorias ao longo das próximas semanas mas o recente Starfield® chegou funcionando satisfatoriamente no pequeno console graças à tecnologia Proton da Valve.
  • Depois de tantos anos, finalmente, graças ao SteamOS 3.5, o Linux vai receber suporte à tecnologia HDR! Era difícil implementar nos servidores Xorg e Wayland mas agora isso está fluindo e virá no próximo update do console. E isso pode chegar ao gamescope, o serviço gráfico da Steam, nos computadores.

Ou seja, o SteamDeck se tornou um micro-PC – ele roda Windows se quiser – que é uma solução gamer: o cliente compra o equipamento, liga, faz login na conta, joga. FIM. Sem chateação, sem terminal de comandos, apenas usa. E é isso que também fomentou seu sucesso e está fazendo o Linux crescer, pelo menos, nesse mercado até agora. Ele é tão, até mais simples, que usar Windows para jogar.

E de 1 ano pra cá desde seu lançamento, o SteamDeck se mostrou um estrondoso sucesso e sim, toda a colaboração que a Valve está fazendo no Linux do SteamDeck respinga no Kernel Linux principal de TODAS as distros.

6. Conclusão

O Ano do Linux, ao menos na área gamer, já chegou. O SteamDeck está fluindo absurdamente bem, fomentando o mercado e trazendo o Linux aos holofotes como solução que serve para quem quer apenas ligar o equipamento e jogar. Sem preocupar com updates de sistema, com instabilidade, bugs, telas azuis…. nada. Tão bom quanto um Xbox, um PlayStation ou um Nintendo Switch, você apenas liga e joga!

Por enquanto, posso afirmar que na parte gamer ele não faz feio, é uma plataforma mais forte que a atualmente disponível sustentada pela Apple e seus macbooks; infelizmente não é bem uma solução quando se trata do restante das exigências que o mercado doméstico e empresarial possuem, que fazem o linux ser menos atraente.

E você, concorda? Discorda? O que pensa? Deixe nos comentários!

O segundo artigo se encontra neste link de autoria de Vilson Heuer!

#Nathan Drake a.k.a. UrbanCompassPony

1 comentário em “Artigo: Por que o “Ano do Linux” nunca chega? – Parte 1”

  1. Só hj consegui ler, rs. Concordo plenamente com que pontua no tópico 4(Não que discorde do restante, haha). A infinidade de possibilidades que o LINUX tem, assusta o usuario final que só quer um sistema que “rode” tudo que ele precisa, sem muito esforço, sem procurar aqui ou ali, sem tentar cá ou acolá. macOS e Windows, tem ali suas lojinhas bem completas, muitos softwares fortemente conhecidos, a pir4t4ri4. Essas facilidades atraem mais o publico final do que o “desafio” dos sistemas OpenSource.

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