Opinião: Adeus Ubuntu e olá EndeavourOS!

Neste artigo de opinião, trago minha experiência saindo do Ubuntu, os motivos que me fez mudar e por quê escolhi o EndeavourOS.


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1. Introdução

Quem me acompanha nas redes sociais sabe que eu uso Ubuntu MATE já fazem uns bons anos, porém recentemente eu abandonei o sistema.

Para criar um contexto que julgo interessante, vou trazer um pouco mais de história pessoal nesta publicação. Caso não seja do seu interesse, pule para o tópico 3 aonde vou direto ao ponto sobre o sistema EndeavourOS!

2. O começo

Conheci os sistemas Linux através do Ubuntu em meados de Janeiro de 2015, quando eu peguei pra testar vários sistemas em máquina virtual, num fim de semana tranquilo, e depois de testar o macOS eu quis mais! E lembrei do “tal do linux” que usei no colégio em meados de 2006.

Meu primeiro sistema foi o Ubuntu 14.10 Utopic Unicorn. Coincidências de nomenclatura, é por esse motivo que eu assino UrbanCompass Pony nas publicações. – Mas não é novidade qual meu verdadeiro perfil conforme já mencionei antes. Podem me adicionar se quiserem.

A questão é que utilizei o Ubuntu base sob interface Unity até meados de 2016. Naquele ano, meados de Agosto, migrei em definitivo para o Linux após finalmente rodar o The Sims® 2 no WINE. Assim, estava livre do Windows!

Na ocasião eu mudei de sistema e passei a usar o sabor Ubuntu MATE 16.04. E desde então utilizei o Ubuntu MATE como sistema principal, sendo o último o 22.04 LTS sob o qual inclusive fiz inúmeros testes/reviews aqui no site!

Eu já cogitei utilizar um sistema mais atualizado, afinal o Ubuntu 22.04 está no kernel 5.15 e driver NVIDIA 525. É um “crime” usar um sistema “obsoleto” assim quando temos o kernel 6.2.10 e o driver NVIDIA 530 nos repositórios das distros mais atualizadas, porque tenho uma placa de vídeo RTX 2060 e eu fico meio assim de não pegar tudo de mais novo pra ela. Faltava um empurrão.

Depois de adquirir um SteamDeck e experimentar um sistema baseado em ArchLinux, tive um estalo: foi o empurrão que eu precisava pra conhecer a base desse tipo de distribuição linux e a motivação pra mudar.

2.1 Distrohoping

Experimentei algumas distribuições baseadas no ArchLinux para me situar. O SteamOS é baseado no ArchLinux, o original, com diversas customizações da Valve®. A ideia é chegar em algo semelhante.

Testei o ArchLinux, mas não gostei muito. Funcionou, não é tão complicado configura-lo a primeira vez – talvez eu faça uma publicação a respeito – mas ele vem muito cru: Cada pedaço, cada configuração deve ser feita manualmente: FSTAB, GRUB, tudo é manualmente configurado! Quem é mais avançado e quiser criar seu sistema do zero, é um bom norte, mais amigável que o Linux From Scratch e mais dinâmico que o Debian.

Depois experimentei o famoso Manjaro, muito citado no ProtonDB como uma boa distribuição gamer.

A turma do Manjaro que me perdoe mas testando o sabor MATE de cara encontrei erros terríveis do pacman que me impediram sequer de instalar o sistema. – Deveria usar o Manjaro na base XFCE que é sólida e funcional? Sim. Mas eu estou saindo de um sistema Debian-based para um ArchLinux-based, a mudança é drástica e portanto quero algo também familiar, de preferencia na mesma interface MATE que uso desde 2016.

Por sugestão lá no nosso grupo do Telegram, me deram ideia de conhecer o EndeavourOS.

Eu não esperava nada e encontrei tudo!

2.2 Rolling Release?

O Ubuntu normalmente é uma distribuição focada em ser LTS – Long Term Support – que recebe updates com prioridade em estabilidade e segurança por um tempo especificado, geralmente 3 ou 5 anos dependendo da versão e sabor.

Também é um exemplo de sistema point release, ou seja, recebe novidades pontualmente a cada X tempo, geralmente de 2 em 2 anos no caso dos sistemas LTS; ou a cada 6 meses nos sistemas Interim como o Ubuntu 22.10, 23.04, etc.

Mesmo trocando para as versões Interim, você deve esperar 6 meses para pegar as novidades e ainda há risco de a distribuição vier obsoleta em alguns meses/anos com relação ao que já há na comunidade!

No caso do ArchLinux e outras distribuições da mesma natureza, o sistema é rolling release: Baixe e instale 1x, e ele será eternamente aquilo, apenas recebendo melhorias, correções e novos drivers/suporte a novos hardwares. – Eterno enquanto durar a equipe por trás da distro!

Qual a ideia aqui: Assemelhar ao SteamOS, ter um sistema com updates mais frequentes e atualizado para ter o melhor desempenho possível que bata de frente com o Windows. Afinal é um pouco doloroso ver que ao usar Linux eu possa estar usando só 80% do poder do meu hardware comparado ao Windows simplesmente por usar uma “distro linux mais obsoleta em prol de estabilidade”

3. Now I use Arch BTW!

O EndeavourOS tem uma ideia ousada: Continuar o legado do Antergos Linux, que era uma distribuição curiosamente amigável e estável para usuários domésticos, tendo sido uma grande influencia na comunidade e historicamente uma das melhores distribuições Linux já desenvolvidas.

Em 21 de maio de 2019, os desenvolvedores do Antergos anunciaram o fim do desenvolvimento do projeto, alegando falta de tempo para trabalhar nele.

“Hoje, estamos anunciando o fim deste projeto. Como muitos de vocês provavelmente perceberam nos últimos meses, não temos mais tempo livre suficiente para manter adequadamente o Antergos. Chegamos a essa decisão porque acreditamos que continuar a negligenciar o projeto seria um grande desserviço para a comunidade. Tomar essa ação agora, enquanto o código do projeto ainda funciona, oferece uma oportunidade para que os desenvolvedores interessados aproveitem o que consideram útil e iniciem seus próprios projetos.”

Com um instalador absolutamente amigável e um suporte digno às principais interfaces de usuário existentes, o EndeavourOS é uma distribuição Linux baseada em ArchLinux que já vem com suporte à placas de vídeo NVIDIA mais novas através dos drivers proprietários, enquanto também traz o suporte aos repositórios do ArchLinux oficiais, os repositórios da própria EndeavourOS e também aos repositórios AUR através do gerenciador de pacotes YAY!

3.1 Recursos

Na instalação, o sistema pergunta qual interface deseja utilizar:

  • XFCE4 – Interface padrão da distribuição.
  • KDE Plasma
  • GNOME
  • MATE
  • Cinnamon
  • Budgie
  • LXDE
  • i3
  • Nada. – Você pode instalar somente o sistema sem interface e customizar depois.

Além do suporte ao listado acima oficialmente, há um suporte não listado às interfaces LXQT, BSPWM, Openbox e Qtile!

A vantagem nisso é que a distribuição não é dividida em sub-distribuições, como o Ubuntu. Ou seja, se você pegar o XUbuntu e instalar a interface MATE nela, você corre um sério risco de quebrar o sistema porque ele não foi feito pra isso. No caso do EndeavourOS você pode ter todas ao mesmo tempo e o sistema não vai quebrar.

Escolhida a interface, você poderá escolher o inicializador de sistema que pode ser o GRUB ou, caso seja Firmware UEFI, pode usar o systemd-boot. Decidindo usuário, senha e outros pormenores, o sistema será instalado.

4. Maturidade

O que me atraiu no Endeavour OS foi a maturidade da distribuição. Estou acostumado a ver um “Manjaro MATE” ou mesmo o “Fedora MATE” iniciarem com vários erros desconhecidos por serem distribuições com interfaces não suportadas oficialmente. Ou seja, se bugarem, o problema é teu.

E a graça do Linux é a liberdade com resiliência, se eu quero usar o OpenBox ou mesmo o i3, tudo tem que funcionar o mais perfeito dentro do que aquelas distribuições oferecem, afinal, Linux deve ser uma SOLUÇÃO acima de tudo.

Não quero sofrer pra configurar um ArchLinux e depois sofrer pra debugar um erro de interface que aconteceu por um problema no painel do applet do dispositivo bluetooth que gerou um Oops! e pediu pra enviar o relatório…. esquece.

A coisa tem que funcionar. E eu mexi, bastante, pra ver os limites do Endeavour!

Inclusive eu instalei diversos applets adicionais à interface MATE através do YAY e todos, com exceção de 2, funcionaram perfeitamente: Um applet que seja alternativo ao padrão de WiFi e um applet que “armazene” notificações. Nisso o Ubuntu MATE é um pouco melhor. De resto, a instalação de novos temas e applets foi tranquilo e funciona bem.

E o que não funciona pode ser removido com a facilidade com que foi instalado, sem risco de quebrar o sistema.

5. ArchLinux

Mas afinal, qual a graça de um sistema baseado em ArchLinux e o por quê do misticismo ao redor da distribuição?

Eu não vou falar da parte técnica, porque em essência qualquer distribuição linux é semelhante: Tem um kernel Linux, um sistema base operando, pacotes de aplicativos e uma filosofia bonita por trás dos desenvolvedores. Na ponta do lápis até o Android é uma distro.

No meu uso cotidiano – e gamer! – do EndeavourOS, o que eu senti nele – e no ArchLinux por tabela – são alguns pontos bem específicos que merecem destaque:

  • O sistema de pacotes Pacman é mais rápido.
    Eu posso dar apt update e ver a demora que o sistema tem ao pegar pacotes de alguns repositórios. Já com pacman as verificações de hashs, os downloads, extrações, instalações e revalidações são absurdamente rápidas.
  • O repositório AUR dá uma liberdade absurda.
    Merecia um post dedicado: O repositório comunitário AUR – Arch User Repository – tem de tudo, sendo a maioria dos pacotes testados e funcionais. Quer o Google Chrome? tem. Quer o IRPF Brasil 2023? Por enquanto só vi o 2022, mas tem. Quer o pacote Assinador da SERPRO? Tem.
    Quanto mais bizarro for o pacote, maior a chance dele existir no repositório AUR. Infelizmente também há o risco de ter malwares, como já foi constatado em 2018. Portanto seu uso é uma faca de dois legumes.

O AUR possui vários tipos de pacotes, mas em suma são scripts PKGBUILD que podem desde compilar um programa imediatamente na instalação, automaticamente, ou pegar um binário pré-compilado e apenas aplicá-lo ao sistema. Ele também consegue abrir um pacote .DEB ou .RPM e instalar o programa com as bibliotecas e binários contidos neles. Isso maximiza o suporte, diria que é uma das maiores, senão a maior, fonte de aplicativos para Linux.

  • Estar em dia!
    Sabe aquelas novidades incríveis que eu sempre publico aqui na Linux Universe sobre o Kernel Linux a cada ~2 meses? Pois é, você vai ver tudo no seu sistema a poucos dias – ou no mesmo dia – do lançamento do kernel. E isso é fundamental pra quem joga, principalmente em GPU’s AMD ou Intel.
  • Estabilidade
    Há o mito de que sistemas baseados em Arch quebram com facilidade devido à natureza dos pacotes em dia. Mas qualquer distro está sujeita a isso, pela minha experiência o Ubuntu MATE já bugou mais do que deveria em diversos aspectos, principalmente após updates de interface.
  • Manutenção fácil!
    É muito tranquilo dar boot em um LiveUSB do sistema, entrar como chroot e corrigir algum erro do sistema.

Porém tudo que citei é genérico a qualquer sistema Arch-based, ou seja, Manjaro e a distro ArchLinux também são assim.

E qual o diferencial do EndeavourOS então?

  • AUR habilitado por padrão e melhor compatibilizado.
    O EndeavourOS usa pacotes recentes sendo essencialmente o ArchLinux com uma roupagem nova.
    O Manjaro por exemplo possui suporte ao repositório AUR, mas há uma chance maior de quebras do sistema devido a uma série de fatores, entre eles, o fato do Manjaro priorizar estabilidade e os repositórios AUR normalmente pegam os pacotes mais recentes.
  • Suporte iniciante.
    Por padrão ela fornece um pequeno aplicativo gráfico que me apresenta a distribuição, os manuais, suporte, comunidade e possibilidades. Além disso ele também apresenta ferramentas customizadas gráficas para realizar diversas tarefas no sistema, assim um usuário doméstico não precisa chegar tão perto de um terminal para configura-lo adequadamente.
  • Bom suporte à interfaces de usuário mais populares.
    Na instalação Online você pode instalar 1 ou mais interfaces ao mesmo tempo, elas não conflitam e a distribuição dá um bom suporte a todas elas! Tenha o MATE, XFCE e i3-wm ao mesmo tempo e alterne entre elas sem muito medo de que algo quebre ou fique instável por algum motivo obscuro que você provavelmente não quer perder tempo e descobrir o motivo.
  • Extensa comunidade.
    Tudo bem que a Wiki do ArchLinux já é por si só absurdamente completa; mas a popularidade do EndeavourOS ajuda, a comunidade é extensa e se encontra muitas soluções para problemas comuns. O Telegram deles também é muito movimentado e em geral o pessoal se respeita e estão dispostos a conversar e ajudar!
  • Proximidade com o ArchLinux base.
    O EndeavourOS não tenta se afastar do que o ArchLinux original é, muito pelo contrário, abraça-o. Possui repositórios da própria distro e também do ArchLinux, sendo complementares. Assim dificilmente algo deixa de funcionar ou não há suporte, com os 2 sistemas compartilhando os mesmos pacotes.
  • Um bom tema.
    Uma refisefuqui que se preze precisa ter um bom tema! E o EndeavourOS possui uma boa aparência.

Nem tudo são rosas. Aponto pelo menos 1 problema, muito específico, de uma distribuição desse gênero:

  • Mantenha o sistema atualizado.
    Se deixar seu sistema sem atualizações por mais de 6 meses, provavelmente ele vai quebrar ou apresentar sérios problemas na hora de atualizar ou baixar algo dos repositórios.

Nesse caso, se for um sistema servidor ou mesmo que receberá poucas atualizações por falta de internet ou outros motivos, prefira uma distribuição LTS como o Ubuntu! É mais obsoleta, mas vai ter maior durabilidade nesse caso.

6. Desempenho

Afinal, valeu a pena a troca?

Considerando meu hardware:

  • Placa Mãe C2014-H81H3-M4
  • Processador Intel Core i7-4790 [MT MCP] 4 Cores 8 Threads @ 4.0 Ghz
  • Placa de Vídeo NVIDIA TU106 – 6 Gb de VRAM [EVGA GeForce RTX 2060 Rev. A]
  • 16 Gb de RAM
  • SSD 480 Gb

Os sistemas operacionais são o Ubuntu MATE 22.04.2 LTS:

  • Kernel Linux 5.15.0-69-generic
  • Driver NVIDIA 525.105.17

E EndeavourOS Cassini Nova 03.2023 R1:

  • Kernel Linux 6.2.10-arch1-1
  • Driver NVIDIA 530.41.03

Eu julgo que sim. Sem muitos tweaks, apenas trocando de sistema operacional, os testes e resultados foram os seguintes:

6.1 Unigine Superposition

Nosso querido benchmark volta! E aqui temos resultados muito interessante.

Comparando apenas as 2 distros, no Ubuntu o resultado foi o seguinte:

  • FPS Mínimo: 48.58
  • FPS Médio: 61.18
  • FPS Máximo: 78.73
  • Temperatura Mínima: 51
  • Temperatura Máxima: 86

Enquanto que no EndeavourOS foi:

  • FPS Mínimo: 50
  • FPS Médio: 63.3
  • FPS Máximo: 80.27
  • Temperatura Mínima: 57
  • Temperatura Máxima: 87

Ou seja, houve uma melhora. Mesmo que sutil, pontual, mas uma melhora a ser considerada, além de um aumento na temperatura geral da placa de vídeo.

6.2 Blender

Um outro teste muito importante é o de renderização com o Blender.

Os resultados foram os seguintes:

  • Ubuntu MATE: Na NVIDIA renderizou em 37 segundos
  • EndeavourOS: Na NVIDIA renderizou em 34 segundos

Diferença pequena novamente. Afinal, do driver NVIDIA 525.xx para o 530.xx a diferença também é sutil. Porém no processamento Intel isso ficou mais interessante:

  • Ubuntu MATE: Tempo restante 7:42 minutos
  • EndeavourOS: Tempo restante 7:14 minutos

Quando entram as otimizações de Kernel, as melhorias de driver MESA, ajustes de I/O e outros que tanto menciono aqui a cada novo Kernel lançado, é aonde o processador consegue trabalhar com mais eficiência. – E se for placa de vídeo AMD também há melhorias substanciais.

7. Conclusão

Longe de ser uma review completa do EndeavourOS, o objetivo aqui foi trazer um pouco da experiência que tive saindo de uma distribuição tão conservadora quanto o Ubuntu para partir para algo baseado no ArchLinux. E fui muito feliz com o EndeavourOS e com o que ele entrega para quem nada sabe sobre esse tipo de distro linux.

No geral a experiência foi boa, aprendi muita coisa e pretendo trazer dicas e truques para quem quer se aventurar no mundo baseado em ArchLinux!

O ponto maior é: Se você não experimentou algo baseado em ArchLinux ainda, ou experimentou e teve uma experiência ruim, tente o EndeavourOS, você pode se surpreender com o que a distribuição oferece e pode desmistificar alguns antigos conceitos por trás do ArchLinux e/ou distribuições baseadas nele.

#UrbanCompassPony

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