Android é Linux?

A polêmica está lançada: afinal, podemos dizer que Android é Linux? Até que ponto o Android pode ser uma distribuição?


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1. Introdução

De vez em quando vemos pessoas tentando aumentar a quota de usuários Linux argumentando que o Android pode ser considerado uma distro, porque usa o kernel Linux como base. E assim, pode-se até dizer que o Linux venceu e o “ano do linux” já chegou: Android já passa o Windows em quantidade de usuários no mundo!

Se você ainda não leu nosso artigo sobre a origem dos sistemas UNIX® e baseados em UNIX que vieram posteriormente, você deve começar a partir daí, clicando aqui.

O ponto da questão é que o Linux é o kernel que foi desenvolvido por Linus Torvalds em 1991, baseado no sistema operacional MINIX, um sistema criado inspirado no UNIX. A partir disso, podemos prosseguir com a postagem!

2. Resposta curta

  • Android é Linux? Sim. Porém…
    Android é “um sistema baseado no kernel” Linux.

Ele não é uma distribuição Linux, tal qual o Ubuntu, Fedora etc.
É um tipo de sistema diferente.

3. Resposta longa

3.1 Motivo da Discórdia

Com o passar do tempo, os mais diversos desenvolvedores se aproveitaram do fato de que o Linux ser de código aberto e o ajustou para se adequar às suas ideias e implementações, criando uma variedade de distros para computador, com uma infinidade de características únicas.

Convencionou-se no inconsciente coletivo chamar de “Linux” genericamente qualquer sistema operacional construído em cima do kernel Linux. Como ele é open source e pode ser usado gratuitamente, qualquer um pode construir o seu próprio sistema adicionando interface de usuário, biblioteca de arquivos e programas.

Muitos defendem o uso da expressão GNU/Linux para os sistemas operacionais, visto que ela contempla tanto o kernel (Linux) quanto o sistema (GNU) que normalmente o acompanha. Mas isso é uma inverdade e nem sempre o GNU estará presente, sendo que hoje o Linux como kernel também engloba pacotes não-GNU que o torna um sistema operacional independente. De tal modo que o GNU também anda sozinho com o kernel Hurd. – Sistema Trisquel!

Graças a essas características, instituições, empresas e governos desenvolvem seus próprios sistemas, criando uma miríade de distribuições entre as quais estão Debian, Fedora, ArchLinux, OpenSUSE e RedHat, entre outras.

Tomando isso como base, podemos dizer, então, que o Android é um tipo de distribuição Linux, afinal ele tem como base exatamente o kernel!

Mas essa informação está incompleta. E a parte da divisão que torna o Android um sistema baseado no Linux, mas não um Linux propriamente dito, é justamente as modificações feitas no kernel do sistema, a ausência de suporte para programas desktop e também o modelo de gestão e desenvolvimento mantido pela Google.

3.2 O que é o Android?

A Android Inc. foi fundada em outubro de 2003 por Andy Rubin, Rich Miner, Nick Sear e Chris White na Califórnia, EUA. O projeto Android foi descrito como um projeto com “um tremendo potencial no desenvolvimento de dispositivos móveis mais inteligentes, mais conscientes da localização e das preferências do usuário”.

O sistema operacional Android, de código aberto, foi desenvolvido com o objetivo de criar um SO avançado para câmeras digitais, até descobrirem que o mercado de câmeras digitais não era grande o suficiente e realinharam seu foco para criar um sistema operacional para celulares, competindo com o Windows Mobile e o Symbian.

A Google Inc. comprou a empresa em 2005 e o resto é história. O Android continua aberto mas executa sob diversos módulos proprietários de código fechado desenvolvidos pelo Google.

Sob o capô, o Android usa um kernel Linux modificado que fornece aos desenvolvedores toneladas de recursos pré-construídos e bem mantidos. Isso, por sua vez, economiza tempo e permite que os desenvolvedores do Android se concentrem nos recursos mais importantes para dispositivos móveis. O kernel no caso, foi e ainda é baseado na versão 3.x.

De acordo com  The GNU Manifesto, de Richard Stallman, um sistema operacional tem quatro elementos:

  • O kernel
  • O HAL (Hardware Abstraction Layer) – onde os drivers que não são compilados no kernel ‘residem’.
  • O espaço do usuário – onde os aplicativos ‘residem’.
  • O ambiente de desktop ou interface do usuário, por exemplo, GNOME e KDE.

O aspecto do Android que é sistema Linux, é apenas o seu kernel monolítico, que é uma versão modificada do kernel do Linux e nada mais. Ele vem com suas próprias bibliotecas e APIs para atender aos requisitos de dispositivos portáteis, mesmo aqueles com baterias relativamente pequenas.

3.3 Especificidades

Apesar de trazer o kernel Linux em seu coração, o Android conta com modificações específicas e exclusivas feitas pela Google. O site Embbed Linux Wiki, por exemplo, lista algumas especificidades do kernel que estão presentes apenas no sistema mobile e “não são parte do kernel padrão e estão disponíveis apenas no kernel do Android no Android Open Source Project.

Ou seja, o kernel do Android não é o padrão utilizado por outras distribuições Linux. E isso é uma das bases das distribuições: O kernel do Ubuntu pode ser usado no ArchLinux e o do Manjaro pode ser usado no Fedora. Até o FreeBSD pode ser enfiado num Ubuntu!

Contudo, visto que o kernel é distribuído sob a GNU General Public License, ele pode ser modificado, e muitas organizações responsáveis por distribuições Linux fazem isso. O próprio eLinux.org informa que as modificações feitas no Android não são tão extremas a ponto de descaracterizar o sistema. Então, esse é mais um ponto de dúvida e que não esclarece se o Android é ou não um sistema Linux.

3.4 Mais controvérsia!

Durante a Google I/O de 2010, o engenheiro da Google Patrick Brady foi bem claro ao afirmar que “o Android não é Linux”, apesar de ser desenvolvido sobre o núcleo Linux. – Aqui ele não foi objetivo, mas se refere a Linux com significado de distro – Ele cita como justificativa para isso os fatos de: o Android não ter um sistema nativo de janelas, não ter suporte à biblioteca GNU gblic – o que impede, por exemplo, que programas de Linux rodem no Android – e ainda não contar com “o pacote completo de utilidades padrão Linux”.

Outro ponto importante a ser levado em conta é o fato de o Android ser um produto desenvolvido de forma bastante restritiva e controlada pela Google. Ele é oferecido gratuitamente a outras empresas por meio do Android Open Source Project (AOSP), mas a gigante de Mountain View é bem direta ao afirmar que ela “detém a responsabilidade pela direção estratégica do Android como plataforma e como produto”. Tal restritividade não ocorre nos desktops.

Ou seja, o sistema todo é desenvolvido de maneira privada pela Google, o que dá a ele algumas amarras proprietárias, digamos assim. Essa característica é importante e acaba por afastar filosoficamente o sistema mobile daquilo que se concebe como uma típica distribuição Linux.

3.5 Base

Se o critério básico for o uso do kernel para que um sistema seja considerado Linux, o Android é, de fato, um sistema Linux. Contudo, se a base para a análise levar em conta também outros critérios, como suporte a softwares GNU e a presença de um sistema de janelas, é possível afirmar que o sistema mobile da Google não é uma distro.

Há quem diga ainda que o Android é um fork de um sistema Linux não-GNU, ou seja, um projeto que se separou e hoje trilha um caminho independente, evoluindo e sendo desenvolvido em um ritmo diferente dos demais sistemas Linux. Essa posição é defendida, inclusive, por Linus Torvalds, que acredita que Android e Linux voltarão a caminhar juntos no futuro.

3.6 Compatibilidade

Hoje se você pegar um código fonte de um programa, seja ele escrito em C, e compilá-lo, você vai executá-lo tranquilamente em qualquer distribuição Linux. Um programa X rodará no Fedora, Red Hat, Ubuntu e etc. Se for um binário .bin, ele executará com ainda mais tranquilidade em qualquer distro!

Ou seja, há um modelo de compatibilidade aqui, que torna todos os Linux desktop basicamente “iguais”. O que mudam é basicamente o empacotamento.

O Android, como bem sabem, é bloqueado não apenas a nível de arquitetura – ARM vs x86 – mas também pelo fato de que um programa .apk não roda em desktops e um .bin não executa em Android. Há tanta coisa por trás do sistema, a nível de API do Java VM, que simplesmente não existe qualquer compatibilidade. Tudo o que existe que compatibiliza o Android num computador são máquinas virtuais pra executar a JVM e tradutores de hardware.

A completa morte na possibilidade de intercambiar bibliotecas e pacotes entre sistemas android e distribuições linux desktops afasta-o como uma “distribuição” propriamente dita e o coloca como algo isolado, único e diferente.

4. Resumindo

Um sistema Linux desktop e o Android não são a mesma coisa porque:

  • O Android é um sistema operacional de código aberto que foi criado pela Android Inc. e agora pertence ao Google, enquanto o Linux é o kernel que foi criado por Linus Torvalds.
  • Android usa sua própria biblioteca C, conhecida como Bionic;
    Enquanto isso, distribuições Linux usam a biblioteca GNU C.
  • O Android não pode executar nenhum programa destinado a um sistema Linux desktop e vice versa.
  • O Android implementa uma versão modificada do kernel Linux com bibliotecas e APIs especializadas para interagir com redes celulares e fornecer suporte para aplicativos que podem ser usados ​​por diversos modelos de telefone, independentemente de seus fornecedores.

5. Conclusão (?)

É evidente que o sistema operacional mais usado no mundo hoje, utilizou e utiliza a tecnologia criada por Torvalds e é oferecida ao mundo gratuitamente. O único ponto em comum com as distros Linux desktop é o fato do Android rodar sob o kernel Linux, mas somente isso.

Assim, provavelmente, na minha humilde opinião, o mais apropriado seja chamar o Android de um sistema baseado no kernel Linux, e não necessariamente de uma distribuição Linux ou um sistema GNU/Linux.

Em definição, concluo que:

  • Android é Linux? Sim. Porém…
    Android é “um sistema baseado no kernel” Linux.
    Não trate-o como uma “distribuição”, tal qual as que existem para desktops ou servidores.

Mas e você?
O que pensa a respeito?
Acha que Android é uma distribuição Linux ou apenas um sistema próprio, único e diferente que só tem o kernel como ponto em comum?

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#UrbanCompassPony

Fontes:
FossMint
TecMundo

1 comentário em “Android é Linux?”

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